À noite, em seu quarto, Paulo perdeu o sono e pôs-se a refletir...
Pensou sobre as palavras de Sophia, aquela moça que chegara a pouco mais de um ano e nada sabiam um do outro, até outro dia. Pensou também em como é bom a pessoa sentir-se apoiado, sentir que existe alguém torcendo por você, nas horas mais difíceis e, quando dá por si, já é alta madrugada e ele mal teve tempo a um cochilo e o dia amanhece.
Paulo então se levanta, prepara um café e se prepara para a viagem até a capital.
Passando pelo colégio e apanhando a sua amiga, seguem.
Durante a viagem, muita conversa e planos da parte de Sophia, que já pensava até em um emprego diferente de ser professora. Segundo ela, queria atuar como segurança ou vigilante, no ano seguinte. Seria apenas mais um ano lecionando alí.
Paulo apenas ouvia e se indagava vez por outra, se ela realmente era capaz de empunhar um trabuco e puchar um gatilho, caso fosse preciso. Mas infeliz dele se quisesse questionar dela, tal coisa.
Chegando então a capital, Paulo estaciona, enquanto Sophia segue até onde cursava e se encontra com Mário que já estava de saída. Seguiram até Paulo e o apresentou:
- Paulo, este é o Mário, meu instrutor no curso!
- É um prazer conhecer! A Sophia só fala em você, o tempo todo! Diz Mário.
- É que ela é nova lá na cidadezinha e só conhece o taxista de lá, que no caso, sou eu. Paulo não perde a oportunidade de brincar um pouco.
Então vamos almoçar? Disse Mário, já dando os primeiros passos para o restante que ficava a uma quadra dali.
No restaurante, eles almoçam, e vão conversando, até que Mário inicia o assunto...
A Sophia me falou sobre a sua amnésia e também sobre o resultado do seu exame ontem...
Bom eu então me lembrei de uma senhora que chegou aqui na capital, há um tempo atrás, e que falava em abrir por aqui, uma clínica de terapia de regressão. Até então eu pensei em quem poderia querer voltar ao passado e se reencontrar. Mas depois de Sophia me contar a sua história, vi então por outro lado, que seria muito bom, se realmente funcionasse, e Sophia então pediu para eu te falar sobre isso. Se você tiver interesse, eu posso procurar pelo marido dela e saber se ela realmente é capaz de realizar essa terapia, pois até agora, eu só sei que ela não abriu por aqui, a tal clínica.
Paulo então, mais uma vez, ficou entusiasmado com a tal possibilidade e disse:
- Eu bem que gostaria de experimentar...
Do jeito que estou, acho que pior não vou ficar.
Nesse momento, os olhos de Sophia brilharam em saber que seria mais uma tentativa do seu amigo se encontrar com o seu passado perdido.
Mário disse que sendo assim, ele procuraria pelo rapaz que trabalhava no mercado como locutor e tão logo tivesse uma resposta, ele avisava pra Sophia.
Fim do almoço, dirigem-se então, Sophia e Mário para o curso, enquanto Paulo dá uma olhada nas vivitrines para passar o tempo e aguardar por Sophia sair do curso.
Desta vez, Sophia estava bem mais ágil e consciente durante todo o curso.
Mário por sua vez, percebeu que a resposta do Paulo havia feito bem a Sophia e o quanto ela estava disposta a ajudar aquele cara, que visivelmente parecia um pai, por sua idade e então brincou:
- Vejo o quanto te fez bem a resposta do coroa, você hoje é outra pessoa daquela do dia de ontem!
- Deu para perceber? Eu depois que fiquei sabendo da amnésia dele, me foquei tanto em buscar ajuda pra ele que até esqueci um pouco de meus objetivos e tenho medo dedicado muito mais em fazer com que ele encontre uma porta que o leve ao seu passado esquecido! Desabafa Sophia.
- É, dá pra qualquer um que te viu por aqui, no primeiro dia, ontem e hoje... No primeiro dia você tinha foco, já ontem você, parecia um vagalume em noite de luar. Mas hoje, você se superou, está melhor que no início e juntando com o que aprendeu, já dá um show em muitos que mais de 100 horas de curso e ainda não adquiriram nada de tática e mira. Parabéns, você assim está muito bem Disse mario, sorridente.
- A partir da próxima semana, eu só vou dispor dos sábados para vir fazer o meu curso, pois as aulas começarão na próxima segunda e eu não tenho folga durante os dias úteis, más a direção do curso já está ciente e vão me direcionar a um outro grupo para que eu possa prosseguir. Sei que vai demorar mais um pouco, porém é a única maneira que tenho pra concluir. Diz Sophia.
- EU estou sabendo, mas já preparamos um grupo pra ingressar você, só que serão 8 horas ao invés de seis, mas você já contará com 100 horas, quando ingressar, ao invés de 60 e daremos algumas mais de brinde, se continuar o bom desempenho.
- Nossa que boa notícia, obrigada! Exclama Sophia super contente.
Ao fim do curso naquele dia, Sophia embarca no táxi, já com a novidade na ponta da língua e a felicidade exposta no rosto.
- Sabe que na próxima semana começam às aulas, né!
- Sim, eu sei, só não sei como dará continuidade em seu curso! Diz Paulo.
- Pois é sobre isso que eu quero falar...
- Vou ter que ficar 8 horas, e só aos sábados. Ainda vou ganhar 40 horas de brinde, indo pra 100 e posso ainda ganhar mais se continuar com o bom desempenho. Agora então, vou mostrar que sei manusear várias armas e deixar que pensem que aprendi com eles... Diz Sophia sorrindo.
- Não sabia que você era sarcástica assim! Diz Paulo olhando sério pra moça.
- Mas eu não poderia chegar lá e pedir um certificado e uma ata, dizendo que já sabia fazer tudo aquilo, podia?
- Não, e claro que não! Exclama Paulo.
- Então eu fiz tudo certo, não é?
Paulo então concorda, pra encerrar a discussão.
Já no portão do colégio eles se despedem e marcam pra dia seguinte, o retorno.
Paulo segue para casa, toma um banho, senta-se e começa a se perguntar:
- Por quê será que essa menina quer tanto me ajudar? Será que Deus realmente envia os seus anjos aos aflitos e terá chegado a minha vez?
Este é um conto de ficção.
Em casos de nomes ou histórias semelhantes, terá sido mera coincidência.
José Gomes
Outubro/ 2024